Enquanto as estatísticas do Vaticano documentam mais um declínio no número de padres e seminaristas católicos, muitos membros da Hierarquia Eclesiástica da Igreja parecem determinados a fazer tudo excepto em promover o regresso às boas práticas católicas, apesar do contínuo crescimento que se tem verificado nas congregações religiosas tradicionais, não só em matéria de vocações como da frequência dos fiéis à Igreja.
Acentuado declínio no número de vocações sacerdotais em vários países
As últimas estatísticas oficiais da Igreja Católica, divulgadas pelo Vaticano, são muito más.
Em 2023, o número global de seminaristas era de apenas 106.495, contra 108.481 em 2022 [1]. O número mais elevado de seminaristas nos últimos anos foi registado em 2011, com 120.616 homens a prepararem-se para o sacerdócio.
De facto, todos os anos, a partir de 2021, começaram a registar-se os recordes mais baixos no número de seminaristas. O número de sacerdotes também diminuiu, embora não tão drasticamente, mas isso é apenas uma questão de tempo. Com efeito, há grande número de paróquias – conforme muitos católicos certamente já viram – a serem servidas por padres envelhecidos, na casa dos sessenta, setenta e oitenta anos.
A Alemanha – nação onde o catolicismo tem sido minado pela acentuada heterodoxia do «Caminho Sinodal» nos últimos anos – é um excelente exemplo deste declínio. Estatísticas incrivelmente reveladoras mostraram novo recorde mínimo de ordenações nas 27 dioceses do país: apenas um total de 29 padres em 2024. Em 1962 houve 557 ordenações.
Na Irlanda, em 2023, os bispos católicos iniciaram um ano de oração pelas vocações, quando o antigo seminário nacional de Maynooth chegou ao ponto de ter apenas 21 alunos nas suas instalações, construídas para centenas deles. Das 26 dioceses da Irlanda, 10 não tinham seminaristas em formação, de acordo com um relatório de Setembro de 2022 do Irish Catholic. Oito seminários diocesanos foram encerrados desde 1993, para se fazer ideia do que tem sido a erosão da fé católica e o desaparecimento das vocações nesse país.
Nos Estados Unidos o panorama é igualmente terrível. Um estudo recente mostrou que apenas 16 das mais de 150 dioceses americanas ordenaram padres suficientes para manter a ocupação dos cargos existentes.
Para as outras dioceses, prevê-se que a situação só irá piorar a curto prazo, pois somente «40% dos seus sacerdotes activos têm mais de 60 anos», havendo até uma onde 70% dos padres já estavam acima dessa idade.
O que faz então a Hierarquia Eclesiástica?…
Perante esta crise, seria muito natural e expectável que a Hierarquia Eclesiástica tomasse consciência da necessidade de corrigir o que pudesse ter corrido mal e que urgentemente procurasse soluções viáveis para evitar tão preocupante falta de sacerdotes.
Infelizmente não é esse o caso.
Ainda há pouco tempo a Arquidiocese de Chicago se vangloriava do modernismo litúrgico promovido pelo actual Cardeal Blase Cupich, que instituiu mulheres acólitas na sua catedral, como prioridade para o seu programa «pastoral» de 2014. A Arquidiocese alberga cerca de 2 milhões de católicos, mas as ordenações têm sido manifestamente insuficientes para a sua população. Em 2024 houve apenas quatro ordenações e cinco em 2023.
Os historiadores da Igreja têm documentado amplamente a queda dramática das vocações sacerdotais e a frequência dos fiéis à Igreja nos anos que se seguiram ao Concílio Vaticano II e à «reforma» litúrgica de 1969. A situação é lastimável, mas o Clero continua a desprezar essas causas e a persistir nos erros do modernismo.
O próprio Papa Francisco, como se ignorasse completamente o significado e o alcance sobrenatural da Missa Católica, justificou as suas restrições à liturgia tradicional por considerar que «não é saudável que a liturgia se torne ideologia» e por achar que a devoção à Missa em latim é uma «doença nostálgica». Desprezando também as dúvidas, as objecções, os apelos e os estudos de competentes historiadores, teólogos e liturgistas (entre eles alguns cardeais), o defunto Pontífice continuou a dizer que a Igreja devia prosseguir na mesma linha reformista: «Ainda temos que implementar plenamente o Vaticano II», escreveu ele nas suas memórias («Esperança»).
O ressurgimento da Missa Tradicional é o que suscita novas vocações e o que atrai os jovens e as famílias para a Igreja
Um dos poucos sinais de esperança para a Igreja nos últimos anos tem sido o vigoroso ressurgimento da Missa Tradicional ou seja, a Missa em latim, como é vulgarmente conhecida.
Por exemplo, a peregrinação anual dos fiéis da Missa tradicional a Chartres, na França, tem sido talvez o testemunho mais visível desse ressurgimento nos últimos tempos. Composta principalmente por jovens com menos de 20 anos, a peregrinação de três dias no fim de semana de Pentecostes tem vindo a ganhar força, batendo recordes de participação a cada ano. A de 2024 contou com 18.000 peregrinos.
«A Igreja está em crise e as famílias estão a correr para esta peregrinação», observou o presidente cessante da Peregrinação de Chartres, Jean des Tauriers, no ano passado. «Estão a aproximar-se do rito tradicional precisamente por causa da crise na Igreja e para simplesmente transmitirem a fé aos seus filhos», acrescentou.
As congregações sacerdotais que celebram Missa em latim também registaram recordes anuais de admissões nos seus seminários, apesar das restrições impostas pelo Papa Francisco. Segundo alguns observadores, essas restrições até tiveram o efeito «contrário» de estimular o aparecimento de novas vocações.
E no que toca aos leigos fiéis, também tem sido notória a afluência e presença de numerosas e jovens famílias que buscam a Fé Católica na liturgia tradicional e na palavra dos sacerdotes que proclamam a Verdade. É nas paróquias e nas igrejas desses sacerdotes que se vêem mais pessoas, mais jovens e mais famílias numerosas. É aí que está o futuro da Igreja Católica. Não é claramente nas celebrações heterodoxas e dessacralizadas dos padres alinhados com o crescente ateísmo do mundo moderno.
Muitos padres que celebram a Missa Tradicional têm confirmado que nestes anos pós-COVID o número de fiéis duplicou ou triplicou nas suas paróquias, revelando que neles há uma enorme sede de encontrar uma Missa que inspire devoção e à qual se possa assistir em ambiente de sacralidade e respeito, com a possbilidade de receber a Sagrada Comunnhão na boca (prática que muitos bispos e sacerdotes resolveram proibir nas suas dioceses ou paróquias).
Em todas as épocas marcadas pela perseguição à Fé, sempre se verificou que as pessoas voltam, mais tarde ou mais cedo, e com redobrado fervor, a procurar um estilo de vida movido pela busca da Verdade, de bons princípios religiosos e boas regras, pela beleza da Liturgia, pelo respeito ao sagrado e pelo desejo de transmitir às futuras gerações os Valores da nossa Civilização Cristã.
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Notas:
[1] Dados actualizados até ao final de 2023
[2] Michael Davies, Pope John's Council, (Kansas City, Angelus Press, 2007), 461.
Esta matéria é um resumo baseado no artigo de Michael Haynes, publicado pelo Site «Return to Order» da TFP Americana.
https://www.returntoorder.org/2025/04/traditional-liturgy-fills-churches-yet-prelates-persist-in-opposing-it/
Michael Haynes é um jornalista inglês residente em Roma onde trabalha como membro do Corpo de Imprensa da Santa Sé, escrevendo principalmente para LifeSiteNews e PerMariam.