Veronica Rasponi
A 5 de Abril de 2025, o Padre Claude Barthe publicou na revista Res Novæ um artigo intitulado «Défense de la doctrine de la corédemption de la Sainte Vierge», no qual explora em profundidade a doutrina católica da co-redenção de Nossa Senhora, segundo a qual Maria terá cooperado de forma singular na redenção operada por Cristo. Embora se trate de uma ideia antiga, que foi sustentada por muitos santos, teólogos e papas, a referida doutrina não foi oficialmente proclamada pelo Concílio Vaticano II.
O Padre Claude Barthe explica que este privilégio de Maria comporta dois aspectos: a co-redenção (cooperação nos sofrimentos redentores de Cristo neste mundo) e a mediação (distribuição das graças a partir do Céu). Esta cooperação de Maria é singular, porque ela é a Mãe de Deus (Theotokos), circunstância que funda uma particular relação ontológica com Cristo. «Se Cristo, o único Sacerdote, oferece o sacrifício do seu sangue, a participação subordinada da Mãe de Deus neste oferecimento redentor deve-se ao facto de o seu “fiat” ter tornado a redenção possível: foi ela que forneceu a vítima do sacrifício. Além disso, Cristo, que conheceu todos os tipos do sofrimento humano (São Tomás, Summa Theologica, 3a, q. 46, a. 5), também assume a compaixão de sua Mãe, que é de uma qualidade absolutamente única, uma qualidade maternal. É claro que os méritos do contributo de Maria para a nossa salvação não são, ao contrário dos de Cristo, de condigno, de direito, ou seja, não bastam, por si mesmos, para obter a salvação; são méritos de congruo, de conveniência, isto é, concedidos por Deus à oração da Santíssima Virgem».
Os fundamentos bíblicos e de tradição que o Padre Claude Barthe expõe são: a doutrina de São Paulo (Col 1, 24), quando se refere aos sofrimentos do corpo de Cristo; os ensinamentos dos Padres da Igreja, que apontaram frequentemente uma tipologia Eva-Maria, na qual Maria é a «nova Eva», que coopera na salvação; e o facto de os teólogos afirmarem, desde a Idade Média, que Maria ofereceu o seu Filho em sacrifício com Ele, em comunhão de vontade e de sofrimento.
Algumas vozes modernas, como o Padre Michel Viot, que apresentou um programa na Radio-Courtoisie com o título: «Maria co-redentora, uma explicação dogmática supérflua», consideram esta doutrina excessiva ou inútil. «O Padre Viot faz a afirmação espantosa: que São Luís-Maria Grignion de Montfort terá pregado uma devoção, por assim dizer, fraca, na medida em que a mediação de Maria seria apenas, nos termos do Tratado, uma mediação de intercessão, e não de aquisição e dispensação de graças, não havendo por isso vestígios de co-redenção no Tratado da Verdadeira Devoção». O Padre Claude Barthe responde: «São Luís-Maria chama a Maria nada mais nada menos do que “reparadora do género humano”; e explica: “É vontade do Altíssimo, que exalta os humildes, que o Céu, a Terra e o Inferno se dobrem, queiram ou não, às ordens da humilde Maria, que Ele tornou soberana do Céu e da Terra, general dos seus exércitos, tesoureira dos seus tesouros, dispensadora das suas graças, obreira das suas maravilhas, reparadora do género humano, exterminadora dos inimigos de Deus e fiel companheira das suas grandezas e dos seus triunfos” (Tratado da Verdadeira Devoção, n. 29); e ainda: “O Filho de Deus fez-Se homem para nossa salvação, mas em Maria e por Maria” (n. 16). Finalmente, a sua oração de consagração contém esta súplica: “Ó Mãe admirável, apresentai-me a vosso querido Filho como escravo eterno, para que, tendo-me redimido por vós, ele me receba por vós” (n. 29)».
É certo que alguns teólogos influentes, como Yves Congar e René Laurentin, se opuseram à doutrina da co-redenção, em nome do ecumenismo ou com receio dos exageros. O Padre Yves Congar foi, devido à sua preocupação com o ecumenismo, um dos mais virulentos opositores àquilo a que chamava «mariolatria», que constituiria, a par da «papolatria», um sistema que, em sua opinião, acumulava dogmas e condenações, afastando o catolicismo das suas raízes evangélicas. No último concílio, o Padre René Laurentin juntou-se ao Padre Congar no combate à doutrina da mediação de todas as graças e, portanto, da co-redenção, e fê-lo numa obra polémica intitulada La Question Mariale (Paris, Seuil, 1963), na qual considera «problemático» o «maximalismo» do movimento mariano, que qualifica como «excessivo» e mesmo «patológico».
«O Padre Laurentin bateu-se pela retirada do título de “Mater Ecclesiae”, pela integração do texto “De Beata Virgine” na Lumen gentium, deixando portanto de ser um texto independente, e pela diluição do título de “Mediatrix” numa ladainha de termos semelhantes. E, tão maximalista nas aparições marianas como era minimalista na doutrina mariana, rejeitou até ao fim a co-redenção e a mediação das graças».
O Padre Barthe refuta as posições destes dois teólogos, recorrendo a autores também eminentes, como Jean-Hervé Nicolas, Jean Stern e Guillaume de Menthière, que defenderam brilhantemente a ideia da cooperação específica e singular de Maria na obra da salvação.
O artigo conclui com uma ligação entre a realeza de Maria e a de Cristo: «Não será especialmente oportuno, neste ano em que celebramos o centenário da encíclica Quas primas, de Pio XI, sobre a realeza de Cristo, ligá-la, como fez Pio XII, à realeza de Maria, relacionando este poder régio com a sua associação à obra da redenção e a dispensação de graças aos seus filhos, os homens? E não seria igualmente vantajoso desenvolver uma reflexão sobre esta proximidade entre a realeza de Cristo e a realeza de Maria, por um lado, e as instituições humanas, em especial as nações, por outro? Sobretudo para nós, franceses, que vemos em Cristo, como afirmava frequentemente Santa Joana d'Arc, o “Rei de França”, e que reconhecemos a Virgem Maria como “Rainha de França” desde que, em 1638, Luís XIII lhe consagrou o seu reino, conferindo-lhe este título. Que a Santíssima Virgem obtenha, por sua eficaz intercessão, a redenção de sua apóstata filha!».
O Padre Barthe será um dos oradores do colóquio teológico intitulado: «Co-redenção da Santíssima Virgem: um contributo para o debate», que terá lugar em Paris, na Maison Internationale de la Cité Universitaire, nos dias 23 e 24 de maio, e cujas conferências tenderão a relevar o carácter tradicional desta doutrina. O colóquio, organizado pela Confraria Maria Co-redentora, será dedicado à discussão e à defesa do indissolúvel vínculo que une os quatro dogmas marianos (maternidade divina, virgindade perpétua, imaculada conceição, assunção) ao mistério da co-redenção de Maria, um mistério que coroa as outras quatro verdades e as liga no Coração Imaculado, indefectivelmente unido ao Sagrado Coração de Cristo. Serão participantes neste colóquio os padres Gabriel Grodziski, Claude Barthe, Patrick Troadec e Manfred Hauke, o Professor Roberto de Mattei, os padres Jean-Christophe de Nadaï (OP) e Serafino M. Lanzetta (franciscano mariano), bem como Sua Eminência Mons. Athanasius Schneider (para o programa, ver: www.coredemptrice.net).
Contribua com qualquer valor para o site "Cristãos Atrevimentos" Quero Doar Publicado em: Correspondance Européenne