Conheço uma pessoa que parece ser a personificação de um optimismo sem limites. E essa pessoa chegou à conclusão de que não vai haver guerra entre a Rússia e a Europa porque… não pode haver! Não é que lhe falte inteligência, ou seja, não é um idiota em geopolítica, é simplesmente um caso típico de cegueira intencional.

Segundo ele, a razão mostra-nos que as guerras são ruins, caras e não nos permitem ter uma vida despreocupada, portanto...não haverá guerra! Perguntei-lhe se sabia que muitos países europeus já enviaram a todos os seus cidadãos um folheto com instruções sobre o que fazer em caso de guerra. Ele disse-me que sim e que este folheto faria com que as pessoas não quisessem a guerra, porque mostra como esta pode mudar as suas vidas. Perguntei-lhe se realmente acredita que sabe mais do que um governo europeu onde, apesar de haver muitos oportunistas há também muitos profissionais, certamente muito mais informados do que nós. Ele disse-me que não, mas que as guerras começam por mal-entendidos, que basta esclarecer esses mal-entendidos para que a guerra seja evitada ou acabe.

Resolvi testar a sua teoria e perguntei qual era o mal-entendido na guerra entre Ucrânia e Rússia. Segundo ele, basta dividir territórios para que todos fiquem felizes e voltem a ser amigos. Insisti no assunto e perguntei o que fazer, já que a Rússia quer TODO o território ucraniano. A resposta dele foi que isso não poderia ser, que Putin tem que ser razoável. Está bem, apenas Putin é irracional, mas o que fazer então? Resposta: Tem que ser razoável.

É a cegueira clássica do optimista: tem que ser razoável…só porque tem que ser. Hitler também tinha que ser razoável, simplesmente não era e isso não lhe convinha. E ele destruiu a Europa porque não era razoável, mas sim um patife. Putin também não é razoável e quer a União Soviética de volta com todos os países que escravizou, os quais obviamente não querem voltar a ser escravos.

Fiquei a pensar no que dizer a essa pessoa para lhe abrir os olhos e percebi que, a menos que ela mude o seu conceito ilusório de um mundo sem sacrifícios ou sem pecado original, não há nada a fazer. O que é necessário é uma conversão ao estilo de São Paulo. Literalmente caindo do cavalo das suas ilusões. Estatísticas, geopolítica, história... nada convence tal tipo de pessoas. Nem um míssil caindo sobre as suas cabeças o conseguirá, porque continuarão insistindo em que a culpa é de um político que não soube desfazer um mal-entendido. O problema é que esse tipo de pessoas é numeroso, até muito numeroso, e não muda de posição, excepto por milagre.

Isto trouxe-me à memória o pedido feito por Nossa Senhora de Fátima: rezar o terço todos os dias. Porque só a oração realiza o milagre de dar ao cego que não quer ver o desejo de abrir os olhos e enfrentar a realidade de forma viril. Estou cada vez mais convencido de que a recitação do rosário é melhor do que muitos discursos ou raciocínios com este tipo de pessoas. Então deixo aqui essa sugestão a todos os meus leitores e vou rezar o terço, única arma que devolve a lógica.