Rodolfo de Mattei
No passado mês de Fevereiro, deram a volta ao mundo as fotos inéditas da Sala Oval com Elon Musk e seu filho ao lado do novo presidente dos Estados Unidos. A criança, cujo nome é impronunciável («X Æ A-Xii», mais conhecido por «X»), esteve em destaque nos meios de comunicação social numa fotografia que tem circulado nos últimos dias e na qual se vê Donald Trump ajudando-o a subir os degraus do helicóptero presidencial Marine One no relvado da Casa Branca. A foto é significativa na medida em que capta e destaca mais uma vez a estreita relação de confiança e colaboração que parece existir entre o Presidente Donald Trump e Elon Musk, empossado como director do Departamento de Eficiência Governamental (conhecido como DOGE).
No entanto, se a figura de Musk impressiona justamente a opinião pública como personagem exagerada, capaz de proezas espantosas e com extraordinária e provocadora capacidade de comunicação amplificada através da sua própria plataforma X, há outras figuras de bem diferente peso «intellectual» que se movem nos bastidores da Casa Branca e que podem ser justamente consideradas como ideólogos políticos e verdadeiros inspiradores da ascensão de Donald Trump ao poder. Entre essas figuras destacam-se três nomes: Peter Thiel, empresário americano de origem alemã, Nick Land, filósofo da Universidade britânica de Warwick, e Curtis Guy Yarvin (mais conhecido na Internet pelo pseudónimo Mencius Moldbug), programador informático e bloguista americano.
Nick Land, co-fundador, da Cybernetic Culture Research Unit (CCRU), nos anos 90, expôs o seu pensamento num livro-manifesto intitulado Dark Enlightenment (GOG Editions, 2021), no qual, citando extensivamente o pensamento de Moldbug, teoriza o advento de um mundo novo distópico dominado pelas máquinas, filho da vitória do progresso tecnológico e do desenvolvimento capitalista. Segundo o credo «aceleracionista», de que Nick Land é considerado um dos principais ideólogos, não é possível «resistir» a este processo imbatível. Por isso, a única solução consiste em acelerar para ir ainda mais longe e chegar à chamada «singularidade tecnológica». Nos seus escritos, Land também declara o fracasso da democracia como sistema político, por ser intrinsicamente corrupta, e por isso espera um futuro em que o Estado, tal como o conhecemos, possa ser substituído por um governo corporativo, ou seja, por um governo participado por accionistas que não são apenas cidadãos comuns, mas as forças mais avançadas e produtivas do país.
Nick Land e Curtis Yarvin são considerados os fundadores do movimento filosófico anti-igualitário e anti-democrático conhecido como Dark Enlightenment, que deu origem a uma ala específica da teoria política da chamada alt-right americana, o movimento neo-reaccionário da «Nova Direita», também conhecido pelo acrónimo NRx, do qual o próprio Thiel é fervoroso adepto e que está na base de uma corrente do neoconservadorismo americano que exerce influência não negligenciável no Presidente Trump e no Vice-Presidente Vance.
O capitalista de risco e co-fundador do Paypal e da Palantir Technologies, Peter Thiel, é de facto conhecido por ter criado politicamente James David Vance, também conhecido por J.D. Vance, depois de ter sido seu patrão entre 2016 e 2017 na empresa de investimentos Mithril Capital e o principal apoiante de Vance na sua campanha para o Senado em 2022. A relação entre os dois, como escreve a Politico Magazine, começou em 2011, quando o actual vice-presidente dos EUA, então estudante na Faculdade de Direito de Yale, assistiu a um discurso de Thiel em que este associava a incapacidade de Silicon Valley em fornecer tecnologias que verdadeiramente revolucionassem a estagnação das elites políticas e sociais americanas. O vice-presidente dos Estados Unidos nunca explicou publicamente até que ponto partilha a visão do mundo de Thiel, mas também nunca escondeu a sua estima por ele, afirmando que «A minha relação com o Peter é sempre a mesma nos quase 15 anos em que o conheço. Se estiver a acontecer alguma coisa interessante e eu quiser trocar ideias com uma pessoa fascinante e conhecedora, ligo-lhe”.
Mas qual é a visão do mundo de Peter Thiel? A tal respeito, este último exprimiu o seu pensamento político em Abril de 2009, numa discussão publicada na revista online Cato Unbound do think-tank americano Cato Institute, de inspiração declaradamente libertária, com o activista anarco-libertário Patri Friedman, fundador do Seastading Institute, uma organização empenhada na concepção de cidades permanentes e autónomas em alto mar, fora da jurisdição de qualquer governo democrático. No artigo, citado por Nick Land no seu panfleto apocalítico Dark Enlightenment, Thiel afirma que já não acredita na compatibilidade entre democracia e liberdade, entre Estado e capitalismo, inclinando-se para a solução separatista proposta por Friedman, ou seja, para a criação de cidades fora de qualquer jurisdição ou para a criação de novos mundos no ciberespaço. A tarefa decisiva de criar estes novos espaços de liberdade total, fora de qualquer lei, cabe aos empreendedores hi-tech iluminados e visionários, os únicos capazes, segundo Thiel, de explorar plena e sabiamente as extraordinárias oportunidades oferecidas pela tecnologia: «No nosso tempo, a grande tarefa dos libertários é encontrar uma via de escape da política em todas as suas formas, desde as catástrofes totalitárias e fundamentalistas até ao demos imprudente que impulsiona a chamada ‘social-democracia’».
Peter Thiel, para além de ter financiado a campanha política de J.D. Vance, é também um apoiante do pensamento do já referido blogger e programador informático Curtin Yarvin, também conhecido por Mencius Moldbug, o filósofo de referência da chamada «Nova Direita» americana, graças aos seus escritos políticos publicados no seu blogue Unqualified Reservations entre 2007 e 2014 e, desde 2020, através da sua newsletter Gray Mirror. Vance declarou publicamente que considera Yarvin um amigo e em 2021, quando entrevistado num podcast, expondo (e profetizando) o seu plano de despedir um número significativo de funcionários públicos durante uma potencial futura segunda administração Trump, citou os escritos de Moldbug: «Há uma pessoa, Curtis Yarvin, que escreveu sobre algumas destas coisas. Acho que Trump vai recandidatar-se em 2024 e acho que Trump devia, se eu lhe desse um conselho, despedir todos os burocratas de nível médio, todos os funcionários públicos administrativos do Estado, substituindo-os pelo nosso pessoal».
O desmantelamento total do Estado é, sem surpresa, o cavalo de batalha do pensamento expresso por Curtis Yarvin por detrás da pena de Mencius Moldbug. De facto, segundo este último, como não é possível suprimir o Estado, a única saída para a degenerescência democrática é formalizá-la através de uma abordagem que o próprio Moldbug designa por «neo-cameralismo», uma filosofia política inspirada no modelo administrativo cameralista de Frederico II da Prússia. Nesta perspectiva, os governos democráticos culpados de ineficácia e de desperdício de recursos públicos devem seguir o modelo corporativo e ser substituídos por sociedades anónimas soberanas controladas por «accionistas» que têm o poder de nomear um presidente-monarca com poder absoluto e responsável apenas perante o contrato social celebrado com os seus cidadãos/clientes.
Para além de neo-cameralismo, «Cathedral» é outro termo cunhado por Moldbug e que se tornou expressão recorrente no jargão dos neo-reaccionários, confirmando ainda mais a influência do pensamento de Yarvin no seio do movimento da «Nova Direita» americana. Com esta palavra, análoga à de «Deep State», Moldbug revela a sede do verdadeiro poder político nos Estados Unidos, que ele define como «um complexo mediático-académico-jornalístico composto por universidades como Harvard, escolas secundárias da Ivy League, imprensa e meios de comunicação social mainstream, ocupado por uma classe social de “brâmanes do politicamente correcto” (para quem o termo Catedral é quase um sinónimo), que vivem e trabalham para pregar às massas valores democráticos, universalistas e progressistas, para impor ideias aceitáveis e deter o monopólio da verdade histórica».
Em conclusão, a nova administração em Washington está ligada e influenciada, segundo as palavras do mesmo Vance, por «muitas subculturas estranhas da direita», muitas vezes contraditórias entre si, que vão do aceleracionismo ao tecno-utopismo, do misticisimo e do ocultismo até ao pós-humanismo. Neste sentido, a «Nova Direita» americana corre o risco de ser vítima de uma perigosa ideologia, em última análise niilista, que parece concentrar a sua crítica exclusivamente no «progressismo» e na elite de esquerda, encarnada pela referida «Catedral», sem propor uma proposta política clara e autenticamente conservadora, fundada nos valores perenes do direito natural e Cristão.
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La “nuova destra” americana e l’“Illuminismo oscuro” - di Rodolfo de Mattei | Corrispondenza romana
NR: A tradução é da responsabilidade da nossa Redacção.