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Leão XIV, patriarca do ocidente

09 de Junho de 2025

Roberto de Mattei

Roberto de Mattei

Leão XIV, patriarca do ocidente

Um dos títulos tradicionais do Papa é o de Patriarca do Ocidente, um título que remonta aos primeiros séculos do cristianismo. Este título foi abandonado por Bento XVI em 2006, mas reapareceu, curiosamente, no Anuário Pontifício de 2024, por vontade do Papa Francisco. Qual é o significado desta mudança?

O Padre Adriano Garuti (1938-2008), teólogo franciscano próximo de Bento XVI, dedicou um estudo a esta denominação (Patriarca d’Occidente? Storia e Attualità, Bolonha, Edizioni Studio Domenicano, 2007), no qual traça as origens históricas do mesmo. O título de Patriarca do Ocidente foi adoptado pelo Papa Teodoro I em 642 e entrou oficialmente na edição do Anuário Pontifício de 1863, durante o reinado do Papa Pio IX, para sublinhar o papel que o Vigário de Cristo exerce sobre a Igreja latina. Mas Roma sempre afirmou a sua jurisdição sobre toda a Igreja, tanto ocidental como oriental; pelo contrário, os «ortodoxos» negam o primado romano desde o cisma de 1054, e afirmam que, durante o primeiro milénio, o Bispo de Roma era apenas um dos cinco patriarcas, a par dos de Constantinopla, Alexandria, Antioquia e Jerusalém. De acordo com a visão ortodoxa, os patriarcados do Ocidente e do Oriente formavam, em conjunto, a chamada «pentarquia», dentro da qual o Bispo de Roma era considerado apenas primus inter pares.

O cancelamento, em 2006, do título de Patriarca do Ocidente foi interpretado pelos ortodoxos como uma confirmação da pretensão da Igreja Católica à jurisdição universal, que eles rejeitam. Hilarion Alfeyev, que era o representante da Igreja Ortodoxa Russa junto das instituições europeias e é actualmente Metropolita de Budapeste, declarou que Bento XVI teria feito melhor em retirar do Anuário Pontifício não o título de Patriarca do Ocidente, mas os que se referem ao seu primado; e acrescentou que os ortodoxos poderão admitir os títulos de Bispo de Roma, Arcebispo Metropolita da Província Romana, Primaz de Itália e Patriarca do Ocidente, mas «os títulos mais inaceitáveis e até escandalosos do Bispo de Roma são aqueles que sublinham a sua pretensão de jurisdição universal: Vigário de Jesus Cristo, sucessor do Príncipe dos Apóstolos e soberano Pontífice da Igreja Universal» (Europaica Bulletin, n.º 89 (Março de 2006), p. 14).

O Papa Francisco sempre se apresentou como Bispo de Roma e nunca usou os títulos que desagradavam aos ortodoxos. Ao restabelecer, em 2024, o título de Patriarca do Ocidente, Francisco poderá ter querido enviar uma mensagem de apaziguamento ao Patriarcado de Moscovo, que rejeitara asperamente a declaração Fiducia supplicans, mas pretendeu sobretudo dar um passo simbólico na sua estratégia de «caminho sinodal» da Igreja. Com efeito, o historiador Giuseppe Alberigo (1926-2007), o líder da chamada «escola de Bolonha», sempre sugeriu que a autoridade da Igreja tivesse uma articulação «geo-eclesial», numa referência à eclesiologia ortodoxa, uma de cujas formas constitutivas é a sinodalidade dos patriarcados (La Chiesa nella Storia, Brescia, Paideia, 1988, pp. 300-302). Neste sentido, já em 2014, alguns meses antes da viagem do Papa Francisco à Terra Santa, o actual continuador de Alberigo, Alberto Melloni, auspiciava «o restabelecimento do título de Patriarca do Ocidente, cancelado em 2006 por razões históricas e políticas totalmente fúteis» (Corriere della Sera, 8 de Janeiro de 2014).

O Papa Leão XIV parece ostentar, desde os primeiros dias do seu pontificado, uma consciência do primado petrino, e dos respectivos títulos, diferente da do seu predecessor. Assim, na sua alocução ao Colégio Cardinalício de 10 de Maio de 2025, quis agradecer àqueles que apoiam o Vigário de Cristo com a oração e as boas obras; a 18 de Maio, na homilia de inauguração do seu pontificado, intitulou-se Sucessor de Pedro; e na homilia da sua investidura na Cátedra Romana, a 25 de Maio, reafirmou a missão universal da Igreja de Roma, chamando-lhe Mater omnium Ecclesiarum, Mãe de todas as Igrejas. De facto, a Igreja, que é una, santa e apostólica, não é local nem particular, é católica, isto é, universal, com a missão de propagar pelo mundo o único baptismo de Cristo e a única salvação.

Como é que o título de Patriarca do Ocidente se insere na missão universal da Igreja? O termo não pode, evidentemente, ter um significado jurídico, como gostariam os ortodoxos e os promotores de um ecumenismo revolucionário, como Alberigo e Melloni, mas pode e deve ter um significado cultural e moral. Aquilo que o Cardeal Ratzinger afirmou sobre a Europa – que «só é um conceito geográfico num sentido secundário; é essencialmente um conceito cultural e histórico» (Europa – I suoi Fondamenti Oggi e Domani, Alba, Edizioni San Paolo, 2004, p. 9) – também se aplica ao Ocidente; o que significa que o termo «Ocidente» não se refere a um território eclesiástico, mas a um espaço cultural, que tem como característica a universalidade. Desta perspectiva, o Patriarca do Ocidente é portador de uma mensagem universal de salvação que não pode ser reduzida a um âmbito geográfico, mas que se desenvolveu historicamente na Europa e, da Europa, se difundiu para o Ocidente e para o mundo.

Na sua qualidade de Patriarca do Ocidente, o papa reinante tem a missão de defender não apenas a fé católica, mas também a civilização que nasceu dessa fé e que se impôs ao mundo no curso dos séculos. Esta civilização, que está hoje a ser atacada, encontra-se à beira de uma conflagração planetária. Santo Agostinho ensina que todos os seres humanos anseiam pela paz: «Todos os homens visam a paz quando travam guerras, mas ninguém visa a guerra quando faz a paz» (De Civitate Dei, l. 19, c. 12, 1). Acontece que a paz não é a «bandeira branca» evocada pelo Papa Francisco em Março de 2024; a paz, a única paz possível, é aquela que se funda na Verdade e na Justiça, como o próprio Leão XIV explicou a 16 de Maio, no seu discurso ao corpo diplomático. Pelo contrário, a guerra é um castigo divino pela rejeição, por parte dos povos, da ordem natural e divina, e só a oração e a penitência podem evitar os castigos que pairam sobre a humanidade por causa dos seus pecados. É a este nível, e não ao nível de uma eclesiologia sinodal equívoca, que se pode construir uma autêntica ponte entre o Oriente e o Ocidente. Façamos nossas, pois, as palavras do Papa: «Como é importante redescobrir, também no Ocidente cristão, o sentido do primado de Deus, o valor da mistagogia, da oração incessante, da penitência, do jejum, do pranto pelos próprios pecados e pelos pecados de toda a humanidade que são tão típicos da espiritualidade oriental» («Discurso por ocasião do Jubileu das Igrejas Orientais», 14 de Maio de 2025).

Leão XIV tem diante de si o exemplo do primeiro pontífice da história com o nome de Leão – Papa entre 440 e 461 –, o único, juntamente com São Gregório I, ao qual foi atribuída a designação de «Magno». O título de Patriarca do Ocidente terá sido usado pela primeira vez em 450, pelo Imperador Teodósio, numa carta a São Leão I. O título tinha um carácter profético, porque dois anos mais tarde, em Agosto de 452, uma delegação romana chefiada pelo Papa Leão teve de se confrontar com Átila, o chefe dos hunos, no rio Míncio. Não se conhecem as palavras que o pontífice lhe dirigiu, mas o certo é que Átila, «o flagelo de Deus», partiu definitivamente de Itália e o Ocidente foi salvo. Em De Vocatione Omnium Gentium, São Próspero de Aquitânia, discípulo de Agostinho, apresenta o Papa Leão I como o grande protagonista do renascimento da civilização cristã nas trevas que envolveram a queda do Império Romano.

Ainda não passou um mês sobre a eleição do novo Papa: não é tempo de fazer juízos sobre o pontificado; mas é tempo de esperanças e de bons votos para quem vai reinar. Entre eles, o de que Leão XIV assuma o papel de Patriarca e guia do Ocidente no mundo.

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